Dificuldade no desmame – aleitamento materno / “tenho medo de perder a relação intima com o meu filho”


A partir dos 6 meses o leite materno deixa de ser o único alimento do bebê, ele começa a consumir sucos, frutas e depois a papa salgada, que substitui algumas mamadas. Com o tempo, as mamadas diminuem e o desmame (parcial ou total) se inicia. Algumas mães sentem prazer e conexão profunda com os filhos ao amamentar, e por isso podem sentir insegurança quando pensam no desmane, imaginando que perderão uma ligação especial com o seu bebê. Mas na verdade esse vínculo de afeto não deixará de existir, só dará espaço para novas formas de se relacionar.

Como em outras etapas do desenvolvimento e crescimento do bebê, o desmame pode ser difícil. Alguns bebês podem ficar mais irritados, manhosinhos e agitados durante o desmame. E algumas mães podem se recriminar, sentirem culpa, pensando coisas negativas sobre si mesmas durante o desmame, por exemplo:

  • Quando retorna ao trabalho, imagina que não está sendo boa mãe, como se estivesse abandonando o filho.
  • A mãe tem medo de deixar de amamentar e perder o vínculo e a relação próxima com o seu bebê. Pensa “depois ele vai crescer e não vai querer ficar comigo”, “ninguém tem essa relação com o meu filho, só eu dou de mamar para ele, esse é o nosso momento único”.

A mamada é muito importante, mas depois de certa idade (a mãe precisa se informar com o pediatra do seu filho sobre quando iniciar o desmame total) a criança não precisa mais mamar (pois ela já recebe nutrientes de outros alimentos que ingere). Muitas vezes, a criança continua a “mamar” porque quer atenção, está cansada, com sono ou entediada, fazendo do seio da mãe uma chupeta, e às vezes uma “fonte” de alívio de suas frustrações e ansiedades. Nessas situações, a mãe pode ajudar o filho a lidar com as emoções conversando, distraindo a criança, dando carinho, cantando, ou seja, dando ferramentas para o filho aprender a enfrentar suas insatisfações e necessidades de forma mais saudável.

Vários “desmames” vão acontecer no decorrer dos anos do filho, alguns mais fáceis e outros mais doloridos. Durante a vida terá que abrir mão de algumas coisas para conquistar outras, também passará por experiências na vida de perdas e limites. Por exemplo:

  • A pessoa que ele gosta e quer namorar, não gosta dele e não quer uma relação com ele.
  • Falecimento de alguém que ama.
  • Perder o trabalho ou não receber o aumento que desejava.

É fundamental a mãe compreender que o amor e a ligação entre ela e o bebê não irá diminuir por causa do desmame, pelo contrário, dará espaço a novas formas de se relacionarem, possibilitando novas conexões de afeto. A mãe poderá aproveitar e curtir os momentos com o seu bebê nas brincadeiras, no banho, na cantiga ou nas historinhas que ela pode ler.

É importante a mãe refletir quando ela tem dificuldade e medo de parar de amamentar:

  • Qual o real motivo dessa minha resistência e insegurança?
  • Será que coloco um significado de amor na amamentação maior do que realmente deveria colocar? Será que tenho dificuldade de demonstrar esse meu amor pelo meu bebê de outras formas? Tenho medo de que meu filho não sinta tanta necessidade de mim depois do desmame? Tenho medo de ser rejeitada e “trocada”?
  • Como estão os meus outros papéis da vida (casamento, trabalho, amizades, …)? Será que só me sinto realizada como mãe e estou com medo de voltar a encarar as outras partes da minha vida que estou insatisfeita?

É fundamental que o processo de desmame seja gradual, reduzindo algumas mamadas (conforme orientação do pediatra), sem pressão, permitindo que a mãe possa se sentir tranquila e apoiada (o pai tem papel importante nesse momento), para ela se sentir segura e assim poder transmitir segurança ao seu bebê. Em momentos de tranquilidade, a mãe pode falar com seu bebê, orientando que ele está crescendo e poderá começar a tomar o leite na mamadeira ou no copinho. A criança irá compreender o tom de voz da mãe, os gestos, internalizando aquela informação.

O desmame poderá representar algo menos ameaçador se for conduzido dessa forma mais calma, dando tempo ao tempo, aos poucos. Assim, facilitará que a mãe e o bebê curtam esse início do desenvolvimento da autonomia e independência que ele (o bebê) irá conquistar cada vez mais ao longo dos anos.

O desmame é natural e saudável para o bebê e para a mãe. Quando a mãe sente dificuldade de passar por esse processo, é indicado o acompanhamento com o psicólogo.

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